segunda-feira, 28 de maio de 2012


               "Como atrair os pais para a escola"




  • Todo educador sabe que o apoio da família é crucial no desempenho escolar. Pai que acompanha a lição de casa. Mãe que não falta a nenhuma reunião. Pais cooperativos e atentos no desempenho escolar dos filhos na medida certa. Esse é o desejo de qualquer professor. 

    Segundo um estudo publicado no Journal of Family Psychology, da Associação Americana de Psicologia, as crianças que freqüentam festas e reuniões familiares têm mais saúde, melhor desempenho escolar e maior estabilidade emocional. E mesmo o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), de 1999, apontou que nas escolas que contam com a parceria dos pais, onde há troca de informações com o diretor e os professores, os alunos aprendem melhor. 

    Diversos educadores brasileiros também defendem que a família realize um acompanhamento da escola, verificando se seus objetivos estão sendo devidamente alcançados. 

    Essa atuação dos pais ainda é bem rara, de acordo com os resultados de pesquisa realizada no ano passado pelo Observatório do Universo Escolar. A instituição, um braço do Instituto La Fabbrica do Brasil, parceira do Ministério da Educação, ouviu mais de 100 pais e educadores da rede pública e privada de todo país e constatou que só 13% das escolas públicas mantêm um relacionamento próximo com a família. Por outro lado, 43,7% dos pais de alunos da rede pública acreditam que, se fossem promovidos mais encontros e palestras interessantes, haveria maior integração com a escola. 

    Por que pais e professores ainda não conseguem se entender? Segundo a mesma pesquisa, a maior parte dos educadores atribui aos pais a origem dos problemas de disciplina. E apontam como fatores o novo modelo familiar, no qual os adultos permanecem pouco tempo em casa, ou ainda aquele que apresenta uma organização diferente da tradicional. 

    Confusão de papéis

    Para a pedagoga Márcia Argenti Perez, do campus da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, que estuda os conflitos entre a escola e a família, a culpa é do tempo maluco em que vivemos. "Mudanças que antes ocorriam em 100 anos agora acontecem em dez e está muito difícil acompanhar as novas exigências sociais e culturais", diz. 

    Hoje há uma confusão de papéis, cobranças para as duas instituições e novas atribuições profissionais para você. "Parece haver, por um lado, uma incapacidade de compreensão por parte dos pais a respeito daquilo que é transmitido pela escola. Por outro lado, há uma falta de habilidade dos professores em promover essa comunicação", afirma outro estudioso do assunto, o professor Vítor Paro, também da USP. 

    A escola deve utilizar todas as oportunidades de contato com os pais para passar informações relevantes sobre seus objetivos, recursos, problemas e também sobre as questões pedagógicas. Só assim eles vão se sentir comprometidos com a melhoria da qualidade escolar. Muitas instituições não informam à família sobre o trabalho ali desenvolvido e isso dificulta o diálogo. "Ou os pais cobram o que não deveria ser cobrado ou ficam desmotivados e não participam de uma comunidade que não deixa claros seus objetivos e dinâmicas", afirma Márcia. 

    Como melhorar a relação

    A discussão deve avançar na procura das melhores oportunidades de promover um encontro positivo entre pais e professores. Para isso acontecer, alguns conceitos precisam ser revistos. 

    Perceba a construção da família atual e não mistifique o modelo do passado como ideal. 

    Tenha claro que é direito dos responsáveis pelos estudantes opinar, fazer sugestões e participar de decisões sobre questões administrativas e pedagógicas da escola. "A educação é um serviço público, e o pai, um cidadão que deve acompanhar e trabalhar pela melhoria da qualidade do ensino", afirma a consultora pedagógica Raquel Volpato, de Botucatu (SP). 

    Apóie a Associação de Pais e Mestres, para que ela não se restrinja a apenas arrecadar dinheiro. Não dá para contar com os pais apenas na organização de festas. 

    Para que as reuniões tenham quórum, é preciso ter objetivos bem definidos e conhecer as famílias e a comunidade em que a escola está inserida. Planejamento é essencial. "A reunião não pode ser vista como uma prestação de contas", diz a pedagoga Márcia Argenti Perez. 

    Reflita sobre os preconceitos e as discriminações existentes na escola. Não é necessariamente o grau de instrução do pai e da mãe que motiva uma criança ou um adolescente a estudar, mas o interesse em participar de suas lições de casa e da vida escolar. "Como muitos pais têm um histórico de exclusão e fracasso escolar, existe medo e vergonha de trocar idéias e conversar com os educadores", afirma Márcia. 

    Não parta do princípio de que a família precisa ser ajudada pela escola e sim de que a escola precisa dela. 

    Todo diretor tem que dar conta da participação familiar e para isso a gestão não pode ser autoritária.




"Um trio afinado"


A escola surge na vida da criança como um dos principais ambientes extrafamiliares. Lá ela inicia a socialização, compartilha conhecimentos e amplia seu universo. Essa ampliação deve funcionar como continuidade do processo iniciado em casa, onde há muito tempo ela constrói sua história. O ser humano é um todo, não se fragmenta nos espaços aos quais pertence. Em cada um deles, é um ser por inteiro. Se na família se inicia a trajetória pessoal, na escola muitos capítulos serão escritos. 

Além dessas duas instâncias, outra faz parte da vida da criança com necessidades especiais: os diversos profissionais e os serviços com os quais tem contato, como o atendimento educacional especializado. Ela é o ponto de convergência de todos esses atendimentos, que devem ser integrados. 

A necessidade de consistência e de articulação entre os diversos contextos coloca os pais e outros responsáveis na estratégica posição de articuladores e mediadores. São eles que podem fazer fluir a comunicação para integrar os envolvidos no trabalho que visa ao bem-estar e ao desenvolvimento dos pequenos. Essa mediação possibilita também que a família se beneficie das ofertas de aprendizagem, adaptações e flexibilizações, valendo-se delas para dar continuidade a essas práticas no cotidiano dos filhos em casa. 

A Educação como meio de aperfeiçoar as aptidões físicas, intelectuais e morais acontece tanto no convívio familiar como em sala de aula. A construção de mundo e a compreensão do universo escolar e do sentido da aprendizagem serão facilitadas se houver consistência entre o que o estudante vivencia no ambiente de ensino e nos demais a que pertence. 

Como depositária da história do filho, a família revela características, hábitos, modalidades de relacionamento e estilos de comunicação que podem funcionar como um ponto de partida para a construção da ligação afetiva entre a criança e o professor. 

Estudar na rede de ensino regular possibilita ao aluno com necessidades educacionais especiaisacesso aos elementos necessários para construir uma representação de mundo que lhe permita transformar-se num adulto autônomo e participativo. Tanto na família 
como na escola, ele pode experimentar o pertencimento e a diferenciação. Pertencimento, por conviver com um grupo e se perceber semelhante. Diferenciação, por ser único, não por sua deficiência, mas por sua singularidade. 

As crianças com deficiência não se reduzem a um diagnóstico. As que têm síndrome de Down não são iguais nem parecidas. Também aquelas com autismo são diferentes entre si - e isso vale para qualquer outro transtorno ou síndrome. Os pais sabem disso. As informações científicas são pertinentes para ampliar a compreensão da criança, não para rotulá-la. 

busca do professor por informações sobre transtornos e síndromes é, sem dúvida, importante. Mas, para compreender o estudante em si mesmo, é preciso recorrer à família. Só ela pode revelar com clareza a criança em sua subjetividade e particularidade. Por isso, a relação com ela deve ser valorizada.





  "Os contatos iniciais com o amigo dicionário"



  • Dicionário é "a listagem geralmente em ordem alfabética das palavras e expressões de uma língua com seus respectivos significados", segundo o minidicionário Houaiss. A definição pode dar a impressão de que se trata de algo com pouca utilidade em tempos de respostas instantâneas via internet, mas esse tipo de livro continua sendo de fundamental importância pelo rigor de suas informações. Diante disso, ele deve ser apresentado já na alfabetização inicial às crianças - elas precisam entender que o dicionário vai acompanhá- las durante toda a vida. 

    Cristiano Alcantara é professor na sala de leitura da EMEF Duque de Caxias, em São Paulo. Em parceria com os docentes responsáveis pelas aulas regulares, ele desenvolve atividades com essa publicação para turmas do 1º ao 9º ano. "Mostro aos estudantes que ela é mais prática e precisa do que os sites de busca que eles consultam na internet", diz. 

    No trabalho em conjunto com Alcantara, Regina Coeli do Couto ensina ao 3º ano os recursos que esse tipo de livro oferece. Diariamente, a professora usa textos de diferentes gêneros nas aulas, como contos, reportagens e até receitas culinárias. Ela faz uma leitura coletiva e pede que todos anotem as palavras mais difíceis, que depois são escritas no quadro e procuradas nos vários dicionários distribuídos. A atividade é adaptada para um dos alunos, que tem deficiência intelecual(leia o quadro na página seguinte)

    A investigação também é realizada para termos desconhecidos lidos em textos de outras disciplinas. E, quando a classe vai exercitar a escrita, Regina indica a mesma publicação para tirar as dúvidas de ortografia. Nos primeiros contatos, ela faz o acompanhamento individual até que todos se familiarizem com a publicação. Durante o manuseio, aproveita as curiosidades da turma e antecipa que o material estará presente nas aulas sobre verbos e outros conteúdos. 

    Na sala de leitura, Alcantara distribui exemplares de edições diferentes aos alunos e pede que compartilhem os significados encontrados para uma mesma palavra (também coletada com base em um texto trabalhado por ele ou pelos outros professores nas classes regulares). Com a busca em vários livros, o docente consegue demonstrar a diversidade de respostas existentes. "O que define o uso do significado é a compreensão do contexto", alerta. Por isso, é essencial voltar ao texto e discutir a adequação das diferentes definições encontradas. "Esse tipo de atividade também permite que a criança faça uma leitura crítica e crie opinião a respeito de cada dicionário", complementa Egon Rangel, docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e consultor do Ministério da Educação (MEC). 

    Nelly Carvalho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), aponta no artigo Linguagem e Ideologia nos Verbetes do Dicionário que, apesar de esse tipo de publicação ser considerada um oráculo pelos leitores, seus verbetes carregam valores sociais e culturais. Isso também é observado nas atividades realizadas na Duque de Caxias em que se comparam exemplares de autores diferentes. De acordo com a pesquisadora, como o nome do autor não aparece junto do significado, fica a impressão de neutralidade. Mas a definição carrega a interpretação de quem a escreveu.

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